quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pais ou filhos. Quem tem mais medo do primeiro dia?

Pais receosos com a adaptação dos filhos às rotinas da escola nada têm a temer. Aqui fica um contributo para começar o ano letivo com o pé direito.
Mário Cordeiro (Pediatra)
Cuidados na véspera do início das aulas?
O primeiro dia de aulas é sempre um acontecimento, mesmo que a criança já tenha frequentado um estabelecimento. Para lá das mudanças de sala de aula e até de escola, nesta idade as férias “varrem” o passado e a reentrada é sempre sentida como uma mudança de registo e quase como um iniciar das actividades escolares. Mesmo que a criança já tenha estado na escola, o primeiro dia tem de ser um marco importante e, por isso, deve acompanhar–se de um ritual de passagem e ser comemorado, para que a criança sinta que venceu mais uma etapa na sua vida, embora sem criar ansiedade. É bom os pais irem jantar fora para consagrar a solenidade do momento, realçando o quanto é bom estar na escola.
A adaptação demora quanto tempo?
Algumas crianças nem parecem dar por isso, outras choram e sentem-se desambientadas durante semanas ou até meses, sobretudo às segundas de manhã. A maioria, contudo, depois de uns dias de hesitação e algum choro na presença dos pais, adapta-se e passa a gostar de ir para a escola, encarando isso como algo natural. Tudo depende da escola, dos educadores, da família e, claro, da criança. A melhor maneira de avaliar a adaptação será ver se a criança gosta de ir para a escola e se, ao fim do dia, está contente. O sinal mais importante de que se está a adaptar bem é querer ir logo de manhã e não estar angustiada na altura em que a vão buscar (embora seja bom que gostem de ver os pais). Deixem-na gostar da escola, e digo isto porque há pais que sentem uns certos ciúmes das educadoras que, afinal, passam mais tempo com os filhos do que eles. Mas gostar da escola é um primeiro passo para gostarem de aprender.
Como facilitar a adaptação?
É bom que as crianças saibam quem vai ser a educadora, para que salas vão, que actividades vão fazer. Se é uma nova escola, convém tê-la visitado e ter conhecido já os profissionais, da cozinheira à directora. O diálogo entre pais e professores é essencial, pois a escola não é um “depósito”, e uma boa escola franqueia as portas aos pais, deixando liberdade para a sua intervenção – não para meter o nariz, mas sim para ajudar a contar histórias e outras actividades, de forma espontânea. O ritmo das férias é diferente no que toca a horários, tipo de alimentação, rotinas de sestas, etc. – convém reservar uma semana para uma transição gradual e lenta, em que pais e filhos se vão adaptando (sem stress) ao retomar do trabalho e da escola.
Que fazer se há choros na despedida?
Um dos momentos difíceis é a despedida. Não se pode prolongar demasiado, mas há que durar o suficiente para se dizer “adeus” explicitamente. Escapulir sem dizer nada pode criar desconfiança e incerteza. Se os pais têm de se ir embora, devem fazê-lo honestamente, mas isso não quer dizer estar horas com miminhos. É bom expressar os sentimentos: “Sei que gostavas que nós ficássemos e nós também gostávamos de ficar, mas não podemos.” E, igualmente, dar uma ideia de quando se voltarão a ver – “depois de dormires” ou “logo depois de veres os desenhos animados”. Quando se sai de ao pé de uma criança desta idade, é bom trocar algo que seja significativo… Dar um beijinho na mão do filho e fechá-la, e receber outro na nossa e fechá-la também, dizendo que temos ambos, ali, o testemunho do amor e a representação das duas pessoas que se afastam uma da outra, faz sentir segurança. Convém explicar (e explicar não é pedir autorização, com voz trémula!): “O pai agora vai sair, mas volta. Guarda o beijinho e quando nos virmos trocamos os beijinhos outra vez. Guarda-o bem para daqui a bocado. Vou ter saudades tuas. Vais ter saudades minhas?” Na hora do reencontro, a primeira coisa é perguntar, com cumplicidade e um sorriso: “Guardaste-o bem?”
Como lidar com birras antes da escola?
São birras que têm a ver com sono (a maioria das crianças está a dormir quando o despertador toca), com fome (a hipoglicemia de quem passou a noite sem comer), com o stress dos pais porque “o trânsito é quem mais ordena” e com a sensação, para a criança, de que já não está em casa mas ainda não está na escola, ou seja, uma situação de ambiguidade que acaba por causar angústia, stress e medo. É por isso que as crianças, já com os pais na escola, choram, mas se a despedida não for agónica (o que dará a certeza de que “os pais vão ali e já vêm”), mal os pais desaparecem as crianças calam-se e vão brincar. E quem fica a chorar são os pais, no carro! Tem de haver calma, firmeza e compreensão pelos sentimentos e doçura e amor. Sem isso, ou seja, com “comportamentos de quartel”, as coisas só pioram e as manhãs começam da forma mais desastrosa…
http://inclusaoaquilino.blogspot.pt/2012/08/pais-ou-filhos-quem-tem-mais-medo-do.html

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