A entrada dos adultos na creche/jardim de infância
Para
os pais cujos filhos estão prestes a entrar na escola, já paira alguma
ansiedade no ar. Como é que eles irão reagir? Será que se vão adaptar
facilmente? As lágrimas farão parte do processo ou a integração será
feita sem grande choradeira?
Provavelmente as questões que os pais colocarão neste momento têm
sobretudo como alvo os filhos. Como é que eles...? Com a chegada do novo
ano letivo, parece-me urgente os pais comecem a colocar a questão do
"nós". Como é que nós, pais, lidamos com a entrada dos nossos filhos no
sistema de ensino? Colocar a questão desta forma não denota qualquer
indício de egoísmo; bem pelo contrário. Não há dúvida de que o processo
de adaptação à creche ou ao jardim de infância depende dos mais
pequenos, mas depende também, e muito, da atitude dos mais graúdos.
Ilustrando
o que atrás foi referido, imaginemos duas cenas diferentes, mas com as
mesmas personagens. Numa delas, os pais, face às lágrimas dos filhos,
ficam absolutamente rendidos. Abraçam-se a eles, prolongam o momento do
adeus, questionam-se interiormente se será mesmo adequado deixá-los ali e
não conseguem eles próprios deixar de chorar também. Imaginemos agora
os mesmos pais e a mesma criança, mas com uma atitude diferente. Os pais
interiormente já decidiram que aquela era mesmo a melhor opção para os
filhos; estão convictos de que as lágrimas são quase inevitáveis e que,
por isso, face a elas terão de adotar uma postura carinhosa, mas firme.
Para além disto, têm consciência de que prolongar o adeus com abraços
molhados só dificultará todo o processo. Sem grande reflexão e,
certamente, quase de forma intuitiva, se depreenderá que as duas cenas
descritas terão desfechos diferentes.
A ansiedade e a angústia
são sentimentos que, se não forem bem geridos pelos pais, serão de
imediato captados pelas crianças, gerando nelas um grande receio. O que
pensará uma criança de 2/3 anos, ainda que não muito conscientemente,
quando a mãe a leva à escola pela primeira vez e, passado pouco tempo,
face à sua recusa em ficar naquele novo contexto, começa a chorar quase
tanto como ela? "Se a minha mãe chora, é porque algo não muito bom
estará certamente para acontecer. Logo, se eu chorar muito e me agarrar a
ela, pode ser que me leve embora e não tenha de ficar neste local
desconhecido." Assim se instala um ciclo vicioso, em que as angústias e
lágrimas dos pais dificultarão o processo de adaptação dos filhos!
Um
outro aspeto que é importante referir e que não facilita todo este
processo é a chamada despedida às escondidas, que, basicamente, consiste
na fuga dos pais, num momento de distração da criança. Esta é uma
estratégia que pode ajudar os pais a não sofrerem tanto a pressão do
protesto da criança, na medida em que podem virar costas. No entanto,
para os filhos, a fuga pode gerar sentimentos de perda e abandono. Os
pais devem clarificar muito bem que irão embora, mas voltarão para os
buscar, ao fim de algum tempo.
É importante que os pais estejam
conscientes de que a entrada na creche ou no jardim de infância é algo
que promove o desenvolvimento das crianças em diferentes áreas,
nomeadamente socialização, autonomia e linguagem. Além disso, passado o
período inicial de tempestade inerente ao processo de adaptação, vem a
bonança! Regra geral, o processo de adaptação poderá demorar cerca de um
mês. Se ao fim deste período, a criança continuar a manifestar sinais
de desadaptação, será conveniente, em primeiro lugar, reunir com a
educadora, no sentido de conhecer a sua perceção relativamente a esta
situação. A avaliação por um especialista em psicologia é outra hipótese
a considerar se, entretanto, a situação não se tiver alterado.
Face
ao exposto, falta ainda responder a uma questão relevante. O que poderá
ajudar os pais a enfrentar com menos angústia a entrada dos filhos na
escola? A confiança na instituição. Esta confiança só poderá existir
conhecendo não só as instalações mas também os educadores. A APSI
(Associação para a Promoção da Segurança Infantil) dá algumas pistas
para a escolha da ama, creche, jardim de infância ou escola, que os
poderão ajudar a sentirem-se mais tranquilos (www.apsi.org.pt).
Resta
apenas lembrar que as lágrimas normalmente fazem parte desta etapa de
transição. Acresce que, embora fiquemos com o coração apertado, não nos
podemos esquecer de que o sofrimento, por muito que o queiramos banir é
algo inerente ao processo de crescimento.
Publicado em Educare.PT
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