segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Aos Pais

A entrada dos adultos na creche/jardim de infância
Para os pais cujos filhos estão prestes a entrar na escola, já paira alguma ansiedade no ar. Como é que eles irão reagir? Será que se vão adaptar facilmente? As lágrimas farão parte do processo ou a integração será feita sem grande choradeira? 
 Provavelmente as questões que os pais colocarão neste momento têm sobretudo como alvo os filhos. Como é que eles...? Com a chegada do novo ano letivo, parece-me urgente os pais comecem a colocar a questão do "nós". Como é que nós, pais, lidamos com a entrada dos nossos filhos no sistema de ensino? Colocar a questão desta forma não denota qualquer indício de egoísmo; bem pelo contrário. Não há dúvida de que o processo de adaptação à creche ou ao jardim de infância depende dos mais pequenos, mas depende também, e muito, da atitude dos mais graúdos.

Ilustrando o que atrás foi referido, imaginemos duas cenas diferentes, mas com as mesmas personagens. Numa delas, os pais, face às lágrimas dos filhos, ficam absolutamente rendidos. Abraçam-se a eles, prolongam o momento do adeus, questionam-se interiormente se será mesmo adequado deixá-los ali e não conseguem eles próprios deixar de chorar também. Imaginemos agora os mesmos pais e a mesma criança, mas com uma atitude diferente. Os pais interiormente já decidiram que aquela era mesmo a melhor opção para os filhos; estão convictos de que as lágrimas são quase inevitáveis e que, por isso, face a elas terão de adotar uma postura carinhosa, mas firme. Para além disto, têm consciência de que prolongar o adeus com abraços molhados só dificultará todo o processo. Sem grande reflexão e, certamente, quase de forma intuitiva, se depreenderá que as duas cenas descritas terão desfechos diferentes.

A ansiedade e a angústia são sentimentos que, se não forem bem geridos pelos pais, serão de imediato captados pelas crianças, gerando nelas um grande receio. O que pensará uma criança de 2/3 anos, ainda que não muito conscientemente, quando a mãe a leva à escola pela primeira vez e, passado pouco tempo, face à sua recusa em ficar naquele novo contexto, começa a chorar quase tanto como ela? "Se a minha mãe chora, é porque algo não muito bom estará certamente para acontecer. Logo, se eu chorar muito e me agarrar a ela, pode ser que me leve embora e não tenha de ficar neste local desconhecido." Assim se instala um ciclo vicioso, em que as angústias e lágrimas dos pais dificultarão o processo de adaptação dos filhos!

Um outro aspeto que é importante referir e que não facilita todo este processo é a chamada despedida às escondidas, que, basicamente, consiste na fuga dos pais, num momento de distração da criança. Esta é uma estratégia que pode ajudar os pais a não sofrerem tanto a pressão do protesto da criança, na medida em que podem virar costas. No entanto, para os filhos, a fuga pode gerar sentimentos de perda e abandono. Os pais devem clarificar muito bem que irão embora, mas voltarão para os buscar, ao fim de algum tempo.

É importante que os pais estejam conscientes de que a entrada na creche ou no jardim de infância é algo que promove o desenvolvimento das crianças em diferentes áreas, nomeadamente socialização, autonomia e linguagem. Além disso, passado o período inicial de tempestade inerente ao processo de adaptação, vem a bonança! Regra geral, o processo de adaptação poderá demorar cerca de um mês. Se ao fim deste período, a criança continuar a manifestar sinais de desadaptação, será conveniente, em primeiro lugar, reunir com a educadora, no sentido de conhecer a sua perceção relativamente a esta situação. A avaliação por um especialista em psicologia é outra hipótese a considerar se, entretanto, a situação não se tiver alterado.

Face ao exposto, falta ainda responder a uma questão relevante. O que poderá ajudar os pais a enfrentar com menos angústia a entrada dos filhos na escola? A confiança na instituição. Esta confiança só poderá existir conhecendo não só as instalações mas também os educadores. A APSI (Associação para a Promoção da Segurança Infantil) dá algumas pistas para a escolha da ama, creche, jardim de infância ou escola, que os poderão ajudar a sentirem-se mais tranquilos (www.apsi.org.pt).

Resta apenas lembrar que as lágrimas normalmente fazem parte desta etapa de transição. Acresce que, embora fiquemos com o coração apertado, não nos podemos esquecer de que o sofrimento, por muito que o queiramos banir é algo inerente ao processo de crescimento.
Publicado em Educare.PT

Para os Pais

Adaptação à creche/jardim de infância (por Teresa Paula Marques, Psicóloga Clínica)
Para partilhar com os pais

Alguns pais, por força das circunstâncias, colocam os filhos na creche logo nos primeiros meses de idade. Outros optam por deixá-los à guarda de uma ama ou dos avós. Certo é que, mais hoje, mais amanhã, acaba por chegar o dia em que ingressam no jardim de infância.
Quanto mais novinha for a criança, mais fácil e rápida será a adaptação, por isso, nos casos em que vão para o jardim de infância aos 3-4 anos, é de esperar alguma reação negativa. Uns adaptam-se melhor que outros e tudo está intimamente ligado à empatia que se gera com a educadora.

Temos de ter em conta que este momento produz alterações profundas no mundo da criança. Até esta idade, os pais foram o pilar de todo o desenvolvimento. Foram eles que a ajudaram a alimentar-se, a vestir-se, a lavar-se e a conviver com os outros. No fundo, mesmo sem se aperceberem, transmitiram-lhe a maior parte das regras fundamentais para que pudesse viver em sociedade.
Com a ida para o jardim de infância, chega a altura de colocar muitas destas aquisições em prática. Uma criança que já adquiriu alguma autonomia, decerto irá adaptar-se mais facilmente. As regras podem ser um pouco diferentes, mas não deixam de ser regras, e se está à partida habituada a cumpri-las não irá estranhar. Ainda assim, poderá haver alguma preparação, como, por exemplo visitar o jardim de infância para que ela possa conhecer o espaço e a educadora.

A criança pode experimentar sentimentos de profundo abandono e até de solidão quando é deixada no jardim de infância, uma vez que não pode contar com a presença do pai, da mãe, da ama ou dos avós. Em contrapartida, passa a estar integrada num grupo de pares, que se podem mostrar hostis nos primeiros dias. Temos de ter em conta que existem sempre alguns que já se conhecem de outros anos, uma vez que ingressaram no jardim de infância muito mais cedo e já têm o seu grupinho formado. Algumas vezes acontecem agressões, mordidelas, puxões de cabelo... Mas tudo isso é perfeitamente natural, portanto não há motivo para grandes preocupações.

No geral, as amizades infantis trilham caminhos completamente distintos das amizades adultas. De início é natural que se agridam fisicamente, mas em breve irão transformar-se em amigos inseparáveis. Para além disso, a educadora não pode dispensar-lhe todas as atenções, uma vez que tem vários meninos a seu cargo. Adaptar-se a tantas mudanças ao mesmo tempo é muito difícil. Por tudo isso, não é de estranhar que fique a chorar, o que acaba por ser ultrapassado.

Todas as manhãs, quando os pais a forem levar, é importante que seja criado um ambiente alegre e descontraído. Os pais podem, por exemplo, contar-lhe uma história cujo tema seja de um(a) menino(a) que não queria ir para a escolinha mas que depois arranjou muitos amiguinhos e adorou a experiência! Há que falar também como vai ser o dia de trabalho e fornecer uma referência clara, para que ele consiga situar o momento em que o irão buscar (por exemplo, depois do lanche). É preciso ter em conta que as crianças não possuem ainda a noção do tempo, portanto é necessário arranjar estas estratégias para que saibam o momento em que os pais chegam.

Contudo, chegado o fim do dia, devido às atividades profissionais, muitos acabam por deixar os filhos até mais tarde no jardim de infância. É vê-los sozinhos num canto, a inventarem brincadeiras ou a chorarem ao colo de uma auxiliar. Por vezes torna-se impossível evitar estas situações: uma reunião de última hora, um transporte que se perdeu, o trânsito que estava um caos… Mas existem sempre alternativas: uma vizinha simpática, um primo mais velho, os avós, alguém que se possa recrutar à pressa e que evite este sofrimento à criança. É que sentir-se abandonado, esquecido, pelos pais é algo extremamente traumatizante e que provoca um sentimento de intensa solidão e desamparo.

publicado em Porto Editora